Retrospectiva 2019: novas maneiras de combater a hipoglicemia com glucagon
Esta matéria faz parte do especial do Diabeticool sobre o ano de 2019 para quem convive com o diabetes. Quais foram as grandes notícias, descobertas, aprimoramentos e novidades para nós? Confira a seguir o que mudou no ano passado quando o assunto é hipoglicemia.
Quem está com diabetes, em especial o tipo 1, ou acompanha uma pessoa nesta situação, bem sabe dos perigos da hipoglicemia. Tal condição ocorre quando os níveis de açúcar no sangue atingem valores menores que 70 mg/dl (este valor varia de pessoa para pessoa), e costuma aparecer durante períodos de jejum ou como decorrência do uso indevido da insulina. É comum, também, a hipoglicemia surgir após exercícios físicos ou consumo de álcool. Ela pode (e deve!) ser evitada, por meio de um controle glicêmico rigoroso – isto é, a pessoa precisa seguir cuidadosamente as orientações médicas sobre o tipo de alimentação ideal e a quantidade de insulina a ser aplicada, respeitando sempre os horários.
Mas, quando a hipoglicemia acontece, o necessário é agir rápido. Ao perceber os primeiros sintomas da hipoglicemia (confira abaixo quais são eles), é comum as pessoas bem orientadas já ingerirem rapidamente um copo de suco de laranja, por exemplo, ou um sachê de açúcar. Cerca de 15 a 20g de açúcar são indicados nessas situações. Mesmo assim, podem ocorrer casos ainda mais graves, quando a pessoa com diabetes está com níveis de açúcar no sangue tão baixos que desmaia, perdendo completamente a consciência. Este é o chamado coma hipoglicêmico. Tais quadros são rapidamente revertidos em hospitais, por meio da injeção de glicose na veia. Quando não há hospitais por perto ou quando o tempo é crítico, uma alternativa é injetar glucagon, um hormônio que funciona como o “oposto” da insulina, aumentando os níveis de açúcar no sangue.
No Brasil, temos só uma apresentação comercial do Glucagon, sob o nome comercial de Glucagen®, fabricado pelo laboratório Novo Nordisk.
E é justamente com relação ao glucagon que 2019 trouxe ótimas notícias, como veremos a seguir!
QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA HIPOGLICEMIA?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, os sintomas a seguir são característicos da hipoglicemia e servem de sinal de alerta:
SINTOMAS FÍSICOS
- Tremedeira
- Suores e calafrios
- Taquicardia (coração batendo mais rápido que o normal)
- Fome e náusea
- Sonolência
- Visão embaçada
- Sensação de formigamento ou dormência nos lábios e na língua
- Dor de cabeça
- Fraqueza e fadiga
- Falta de coordenação motora
- Convulsões
SINTOMAS MENTAIS
- Nervosismo e ansiedade
- Irritabilidade e impaciência
- Confusão mental e até delírio
- Tontura ou vertigem
- Raiva ou tristeza
- Pesadelos, choro durante o sono
- Inconsciência
NOVIDADES DE 2019: NOVOS GLUCAGONS PARA COMBATER A HIPOGLICEMIA
Primeiramente, é preciso saber como se usa glucagon hoje em dia.
O Glucagen® é uma embalagem que deve ficar em geladeira e que contém uma ampola de glucagon em pó e uma seringa com água esterilizada. Na hora da aplicação, é necessário misturar o pó à água, agitar bastante a mistura, puxá-la com a seringa e depois aplicá-la, como se fosse insulina. Trata-se de um método eficaz de combater a hipoglicemia severa, mas não chega a ser extremamente prático ou simples, dada a necessidade de ser mantido sob refrigeração e a mistura que deve ser feita antes da aplicação (um passo que, talvez, o cuidador da pessoa com diabetes não tenha capacidade de fazer corretamente em uma situação de nervosismo).
Em 2019, a FDA, agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, aprovou duas novas versões do glucagon. Elas se chamam Baqsimi e GVOKE, e prometem facilitar a maneira como a hipoglicemia severa é combatida. Confira.
BAQSIMI (Eli Lilly. Pó nasal, 3mg.)
O Baqsimi promete ser revolucionário. Trata-se do primeiro tipo de glucagon não-injetável – ele é administrado pelo nariz, via um dispositivo especial. É isso mesmo: é um glucagon “de cheirar”, como se fosse um desentupidor nasal.
O Baqsimi foi aprovado em julho pela FDA, e mais ou menos um mês depois já pode ser encontrado nas farmácias dos Estados Unidos. Ele é indicado para pessoa com hipoglicemia severa e com pelo menos 04 anos de idade. Uma embalagem com 02 unidades custa cerca de US$ 560 (ou aproximadamente R$ 2.250,00).
O medicamento não necessita de refrigeração, podendo ser armazenado em locais de até 30ºC. A validade é de 18 meses a dois anos. Outro ponto interessante é que o pó não precisa ser “aspirado”, apenas entrar em contato com a mucosa do nariz. Isso significa que o Baqsimi pode ser administrado até mesmo em pessoas desmaiadas, que não conseguiram “respirar” o pó nasal por conta própria.
De acordo com a fabricante, a eficácia do Baqsimi é idêntica à do glucagon injetável. Todavia, por ser muito mais fácil de aplicar, promete ajudar mais rapidamente a pessoa com hipoglicemia severa, o que pode fazer toda a diferença. Em um pequeno estudo, 94% dos cuidadores conseguiram administrar corretamente o medicamento, perante apenas 13% de sucesso com o glucagon injetável. Além disso, o tempo de administração do Baqsimi foi de meros 16 segundos, enquanto que preparar e aplicar o glucagon injetável levou, em média, 1 minuto e 53 segundos.
Segundo relatos de quem já experimentou o Baqsimi, o efeito é praticamente imediato. A pessoa sente-se melhor e mais lúcida em poucos minutos, e quem usa sensores contínuos de glicemia percebe uma melhora também quase imediata nos níveis de açúcar no sangue.
Ou seja, para quem sempre se preocupa com as consequências da hipoglicemia, o Baqsimi chega para radicalizar o tratamento deste problema grave, trazendo rapidez, eficácia e facilidade de manuseio. O problema, como sempre, é o preço, extremamente salgado. E não há previsão de chegada no medicamento no Brasil por ora.
GVOKE (Xeris Pharmaceutical, injeção)
Outra novidade que chegou às prateleiras das farmácias dos Estados Unidos em outubro do ano passado foi o GVOKE. Trata-se de uma caneta para injeção de glucagon contendo uma mistura pré-preparada, e que pode ser guardada em temperatura ambiente. O uso é indicado para pessoas com hipoglicemia severa e que tenham pelo menos 02 anos de idade.
O uso é simples: em caso de hipoglicemia severa, basta retirar a capa protetora da caneta e aplicar a injeção, preferencialmente em braços ou pernas. Uma versão “automática” da caneta deverá ser lançada neste ano de 2020.
O medicamento possui duas versões: uma dosagem de 0.5 mg/0.1 mL para crianças e de 1 mg/0.2 mL para adultos. A validade é de dois anos, e pode ser adquirido por cerca de US$ 300 (R$ 1.200,00) em embalagens com 01 injeção.
Atenção: não se assuste muito com os preços dos medicamentos mencionados acima. Tratar o diabetes nos EUA é notoriamente caro, e os preços que colocamos são os de prateleira. Quem possui condições utiliza descontos fornecidos por planos de saúde, que reduzem expressivamente os valores dos tratamentos.
A hipoglicemia é um dos grandes inimigos de quem convive com o diabetes e utiliza insulina diariamente. Ter novos e eficazes parceiros nesta batalha é sempre uma boa notícia. Agora, é aguardar para que estes avanços tecnológicos se multipliquem e se traduzam em medicamentos que possam ser utilizados aqui no Brasil também, a um preço acessível a nossa população.
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