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Os relógios internos, a alimentação e o diabetes

Pesquisa revela parte do intrincado e complexo mecanismo interno que controla as sensações de fome e saciedade. Estudo abre portas para entendimento da origem de doenças como a obesidade e o diabetes.

Assim como um relógio possui diversos componentes mecânicos que trabalham em harmonia para que as horas sejam corretamente exibidas, nosso organismo também possui componentes que nos ajudam a contar o tempo. O nosso “relógio interno” é chamado de relógio biológico, e suas principais funções são comandadas por um grande conjunto de genes. Quando eles trabalham em harmonia, o corpo passa a saber quando é dia e quando é noite, quando é hora de começar a sentir fome ou sono etc. Da mesma maneira que um relógio mecânico pode, eventualmente, ficar desregulado, o mesmo ocorre com o relógio biológico. Cientistas dos EUA publicaram no último mês uma pesquisa que desvenda o funcionamento de parte deste mecanismo, aquele que controla o metabolismo de alimentos. Além de ajudar a entender como o relógio biológico funciona, a pesquisa lança luz sobre questões acerca da dieta humana e sua relação com doenças, como o diabetes.

Os nossos vários relógio internos

O corpo humano é controlado não apenas por um, mas por uma série de relógio internos. Por exemplo, há um mecanismo específico que correlaciona as horas do dia com os períodos de sono e vigília, e outro mecanismo para gerenciar a fome e o uso dos alimentos ingeridos. Cada um destes mecanismos funciona independentemente um do outro, utilizando genes e moléculas diferentes para funcionar.

Sabendo disto, um grupo de pesquisadores resolveu estudar com mais detalhes o “relógio da alimentação”. Eles partiram do fato de que pessoas que se alimentam bastante de madrugada, como quem viaja muito ou trabalha em turnos noturnos, tendem a ser mais obesas que o normal. A hipótese era a de que a alimentação em horários fora do padrão do relógio biológico – o qual nos faz, naturalmente, sentir mais fome durante o período claro do dia – acabava por “desregular” nossos mecanismos internos, causando doenças. Para testá-la, os cientistas alimentaram camundongos apenas nos horários em que eles usualmente dormiam. Em pouco tempo, os bichinhos começaram, por conta própria, a acordar perto da nova hora das refeições e a ficarem agitados, esperando pela comida. Isto demonstrou que seu relógio interno havia sido modificado. Apenas um grupo de camundongos não apresentou mudanças no comportamento: estes animais apresentavam o gene que produz a proteína PKCγ desativado.

Camundongos que receberam comida apenas nos horários em que antes dormiam foram a base para este estudo.

Através desta pesquisa, pôde-se mostrar que a proteína PKCγ é um importante componente do relógio biológico, controlando a maneira como o organismo responde à alimentação. De acordo com o doutor Louis Ptácek, professor de neurologia de Universidade da Califórnia, em São Francisco, o trabalho tem implicações para o entendimento das origens moleculares do diabetes, da obesidade e de outras síndromes metabólicas, uma vez que um “relógio de comida” desincronizado pode fazer parte da patologia por trás destes problemas de saúde. Entender como isto funciona pode, segundo Ptácek, “facilitar o desenvolvimento de melhores tratamentos para desordens associadas à síndrome da alimentação noturna, ao trabalho em turnos noturnos e ao jet lag.”

O trabalho, um dos poucos já produzidos sobre as bases genéticas do relógio interno dos seres vivos, é de autoria de Luoying Zhang, Diya Abrahama, Shu-Ting Lin, Henrik Oster, Gregor Eichele, Ying-Hui Fu, e Louis J. Ptácek e foi publicado na última edição do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Para maiores informações sobre o funcionamento dos nossos relógios internos e suas relações com o diabetes, veja também a matéria “Turnos noturnos aumentam os riscos de diabetes tipo 2“.

 

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