Opinião: eu apoio o boicote desses alunos às “comidas saudáveis”!
Campanha anti-obesidade do governo dos EUA resulta em alimentação horrorosa nas escolas públicas americanas. Estudantes se revoltam em redes sociais.
ESCRITO POR CARLOS MONTEIRO, ESPECIAL PARA O DIABETICOOL
Manter o “cargo” de primeira-dama é uma tarefa complicada. As esposas de presidentes de um país não precisam necessariamente fazer nada, mas geralmente metem o bedelho em algum ponto da vida pública para manter as aparências e justificar um pouquinho o tanto que a nação gasta com sua família.
Michelle Obama (foto), esposa do presidente dos EUA, decidiu desde o início do mandato do marido que iria cuidar da saúde do povo. Ela promoveu campanhas estimulando atividades físicas e uma alimentação balanceada.
O que no começo eram simples campanhas educacionais ganhou um tom mais sombrio quando a primeira-dama e o marido, num toque horrivelmente ditatorial, decidiram obrigar as escolas públicas dos EUA a fornecer apenas “alimentos saudáveis” aos alunos, preparados de acordo com um conjunto de regras ditadas pela Casa Branca.
A desculpa era a de que a epidemia de obesidade nos EUA está atingindo proporções catastróficas, e é necessário educar os pequenos desde cedo para que não se tornem adultos acima do peso. Lembro aqui que a obesidade é um dos fatores de risco mais perigosos para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
Uma lista imensa de exigências alimentares passou a ser, obrigatoriamente, adotada pelas escolas americanas. Enquanto que antigamente cada colégio decidia por si próprio o que dar aos alunos, agora a maneira como se cozinha a comida vêm diretamente do governo. Tem como sair coisa boa disso?
As crianças foram divididas em grupos de idade, e cada um deles é obrigado a comer um número máximo de calorias. Não se pode dar nada contendo gorduras trans. O sal foi limitado. Existe uma quota específica de quanta carne e quantos grãos os alunos podem comer por semana. Pão branco – que desde sempre foi oferecido nas escolas de lá – foi praticamente abolido, porque não se adequada às rígidas regras de “alimentação integral”.
O resultado? Caos.
Nenhuma escola estava preparada para tantas e tantas regras e imposições, tudo em nome, é claro, da melhor das intenções. As quotas diárias de nutrientes são absurdas de ser seguidas, afirmam os cozinheiros. Os orçamentos de alimentação não são suficientes para comprar caminhões de legumes frescos todos os dias.
E, claro, se uma criança não está acostumada a comer “saudável”, não é obrigando-a a isso que se muda a situação.
Segundo o próprio governo americano, mais de 1 milhão de crianças e jovens deixou de comprar o almoço nas escolas depois de implementação da campanha da primeira-dama.
Houve boicotes e brigas dentro das cantinas em vários estados.
E, pelo que parece, os estudantes têm toda a razão. As imagens que ilustram este texto são fotos tiradas pelos próprios alunos dos almoços (não são lanches, não! Isso é o ALMOÇO servido às crianças!!) que estão recebendo.
Esta é a comida que as escolas conseguem produzir se seguirem 100% as imposições de Michelle.
Aqui no Brasil existem diversos exemplos de escolas públicas que conseguem fornecer alimentação de qualidade (de verdade!) para seus alunos. Geralmente a proposta parte da própria diretoria das escolas, que utiliza as verbas repassadas pelo governo para comida e faz acordos com vendedores de frutas, legumes e hortaliças para garantir um preço melhor para a escola. A própria lei que coordena a merenda escolar (Resolução/cd/fnde nº 38 de 16 de julho de 2009) em todo o país impõe pouquíssimas regras às escolas (obriga que o cardápio seja feito por um nutricionista etc), mas deixa muito espaço para que as diretorias encontrem a melhor maneira de servir o melhor prato, encorajando, inclusive, contratos com vendedores locais de alimentos naturais.
Alimentar-se bem é importantíssimo. Tentar evitar que as pessoas estejam muito acima do peso é uma ótima idéia. Mas IMPÔR regras, regras e mais regras, tentando OBRIGAR alguém a emagrecer, NUNCA DÁ CERTO.
É preciso educar. É preciso deixar que as pessoas decidam, por si próprias, a se alimentar bem. Se não, elas não manterão uma boa dieta e serão infelizes, comendo coisas das quais não gostam. Ninguém fica saudável assim. E como você consegue convencer alguém a se alimentar bem? Basta educá-la sobra as inúmeras vantagens da boa alimentação para a saúde, além de mostrar como a comida saudável pode ser gostosa. Coisas que o governo americano absolutamente não sabe fazer.
Parar de se intrometer na vida dos outros é uma lei básica do convívio em sociedade. Falta boa parte dos políticos aprendê-la. Michelle faria bem melhor se fosse “apenas” a esposa do presidente dos EUA e deixasse de interferir na vida do povo. Se, como acontece aqui no país, houvesse espaço para as próprias escolas prepararem seu cardápio, não tendo que seguir uma infinidade de regras absurdas vindas do governo federal, com certeza as crianças se alimentariam melhor. Vá arranjar um emprego normal, senhora, e preocupe-se com seu próprio prato!
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