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Mãe abandona emprego para cuidar de filha pequena com diabetes

Especialistas falam sobre dificuldade de diagnóstico da doença em crianças.

Reportagem do portal R7:

criança com diabetes tipo 1
Iris Costa Silva, de apenas três anos, é portadora do diabetes tipo 1 desde o primeiro ano de vida. Eduardo Enomoto / R7

Já dizia a sabedoria popular que mãe é capaz de abrir mão de tudo por um filho. Depois de descobrir que a pequena Iris Costa Silva, de apenas três anos, era portadora do diabetes tipo 1, a paulistana Shrylene Costa, de 34 anos, mudou de vida. “Preocupada” com o que estaria por vir diante da novidade, a corretora de seguros conta para a série especial do R7 que largou o emprego para se adaptar as mudanças na rotina e aos cuidados especiais que a doença exige.

— Tinha acabado de receber uma promoção na empresa, mas precisei abandonar o emprego para cuidar da minha filha. Na época ela tinha apenas um aninho e dependia totalmente de mim. Só penso em voltar a trabalhar quando ela for mais independente.

A desconfiança de que havia algo errado com a saúde da filha começou com as fraldas que “ficavam muito pesadas e precisavam ser trocadas a cada duas horas”. Segundo a mãe, a menina, também bebia muita água “o que era estranho para uma criança nesta idade e mais quieta”.

— Pesquisei na internet e vi que poderia ser diabetes, mas não sabia que existia em criança. Para mim, essa doença era decorrente da má alimentação e a Iris ainda estava na sopinha. Minha cunhada é enfermeira e mediu a glicemia que estava acima de 600 mg/dl [o normal é abaixo de 100 mg/dl em jejum].

De acordo com o endócrino-pediatra Luis Eduardo Calliari, médico assistente do departamento de Endocrinologia e Pediatria da Santa Casa, é difícil identificar os sintomas do diabetes em crianças muito pequenas, especialmente porque a “doença é muito rara na faixa etária abaixo dos cinco anos”. Mesmo assim, ele cita alguns sinais que podem acender uma luz de alerta para os pais.

— Se a criança estiver irritada e após ingerir qualquer líquido ela se acalme, pode ser sede e este é um dos sintomas do diabetes. Inflamação na região genital e assadura por conta das inúmeras trocas de fralda podem ser outros sinais. Além disso, é importante ficar atento a perda de peso ou ausência de ganho, sonolência e fraqueza.

 

Dificuldade de diagnóstico

Com o resultado da glicemia bem acima do normal, Shrylene conta que correu com Iris para o hospital, onde ficou internada por oito dias.

— Não acreditava. Achava que [a doença] tratava com remédio e não com insulina. Meu marido só chorava e nem conseguia ficar no hospital. Eu dormia duas horas por noite porque fiquei preocupada e também queria aprender tudo sobre a doença. Aproveita para ler enquanto a Iris estava dormindo.

Além der ter que “aprender a lidar com o desconhecido”, a paulistana afirma que sofreu com o despreparo e desconhecimento dos médicos sobre o diabetes.

—Os médicos não estão preparados para atender pacientes com diabetes tipo 1. Saí do hospital achando que açúcar era proibido e sem saber aplicar insulina direito. A pessoa que não tem um bom médico para acompanhar sofre. Tive que recorrer às associações de pacientes.

A endócrino-pediatra Denise Ludovico, da ADJ Brasil (Associação de Diabetes Juvenil), concorda que há um despreparo das equipes médicas dos prontos-socorros, já que o diabetes não é tão comum e os “sintomas se confundem com infecção viral”.

— Por ser uma doença cujos sintomas se assemelham com o de quadros infecciosos, existe uma campanha das entidades médicas para tornar obrigatória a medição da glicemia no pronto-socorro.

O presidente da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), Balduíno Tschiedel, confirma que os médicos realmente sentem dificuldade de diagnosticar o diabetes tipo 1, por não ser uma “doença prevalente”.

— Entre 90% a 95% das pessoas que tem diabetes é portador do tipo 2, ou seja, o médico conhece mais porque cria mais experiência. Para pegar um especialista que saiba bastante em um pronto-socorro, ele tem que ter feito uma residência muito rica, muito boa mesmo. Uma das soluções para melhorar este problema é ampliar os centros especializados sobre diabetes tipo 1 em todo o País.

 

Aceitação e futuro

Para Shrylene, a pior parte do tratamento é ter que aplicar a insulina. São cinco ou seis injeções diárias do hormônio, sem contar as oito picadinhas no dedo para medir a glicemia.

— Meu coração ficava partido na hora da injeção. Às vezes, ela é resistente e chora na aplicação da insulina, mas já acostumou com a picada no dedo que mede a glicemia.

Por conta deste cenário, Shyrlene lembra que chorava e sabia que toda esta tristeza era transmitida para a filha. Foi neste momento que resolveu procurar a ajuda de uma psicóloga. A atitude da mãe é defendida por Calliari. Ele reconhece que “o diabetes infantil é um peso muito grande para a família”.

— Os pais devem ter uma postura mais prática no dia a dia e menos sentimental. Para conseguir isso, é normal procurar auxílio psicológico. Os pais não devem ter vergonha. A aceitação dos adultos gera segurança e conforto na criança.

Mais confiante e adaptada, Shyrlene sabe a importância do tratamento, mas não proíbe nada.

— Tento sempre negociar. Na alimentação, por exemplo, a contagem de carboidrato ajuda a dar mais liberdade para comer de tudo, claro que com moderação.

Apesar de não existir cura, Calliari garante que é possível conviver bem com o diabetes.

— Sabemos que no primeiro momento, existe a preocupação da mãe e o susto. No entanto, precisamos valorizar a evolução do tratamento, que nas últimas décadas avançou muito. Temos agulhas muito finas, lancetas de fácil manuseio, ótimas insulinas e a bomba.

Apesar de ter aceitado a doença de Iris e já saber como lidar, a corretora de seguros conta que não “pensa em ter outros filhos”.

— Tenho medo de ele vir a ter a mesma doença. Ficaria com remorso. Meu marido tem a mesma opinião. Ela até pede um irmão, mas compramos um cachorrinho para ela ter companhia.

Segundo Calliari, o risco de outro filho ter diabetes é de 5% a 7%.

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