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Desvendado o link diabetes-câncer

Por que diabéticos são mais predispostos a certos tipos de câncer? Pesquisadores espanhóis parecem ter encontrado a resposta.

Ligar duas doenças, explicando como a presença de uma favorece o aparecimento da outra, é sempre um trabalho complicado para os cientistas. Muitas vezes, é muito fácil perceber no cotidiano que quem tem uma certa doença possui mais chances de desenvolver uma segunda – é o caso, por exemplo, do diabetes, que infelizmente favorece o surgimento de alguns tipos de câncer (como o do pâncreas e o de cólon). Mas revelar os caminhos bioquímicos que ligam as duas é sempre mais complexo. Uma equipe de pesquisadores espanhóis parece ter, finalmente, desvendado o que une o diabetes ao câncer, uma ligação que desafia os cientistas há décadas.

+ Reveja aqui a matéria “Números da prevalência de câncer em diabéticos”, publicada no dia 02.02.2013.

A equipe de pesquisadores, liderada pela doutora Custodia Garcia-Jimenez, estudava na Universidade Rey Juan Carlos, em Madrid, como as células do intestino respondiam à quantidade de açúcar no sangue. Em meio às pesquisas, fizeram uma descoberta que promete ser revolucionária.

 

GIP, glicose e ß-catenina – um casamento molecular

Os cientistas sabiam que, quando havia excesso de açúcar na corrente sangüínea, as células intestinais secretavam um hormônio chamado GIP. O GIP “informa” ao pâncreas que mais insulina deve ser liberada no sangue, para que este excesso de açúcar possa ser absorvido.

Querendo entender a fundo este mecanismo, Custodia e seus colegas estudaram como a produção de GIP era feita pelas células intestinais. Desde 2009 eles conduziam pesquisas acreditando que o GIP poderia ser utilizado como uma terapia viável para o diabetes tipo 2. Foi aí que a grande descoberta foi feita. Os espanhóis observaram que uma proteína, chamada de ß-catenina, era a responsável pela produção do GIP. E isto deixou os cientistas perplexos.

A ß-catenina é uma proteína famosa na área da oncologia. Ela é, quando apresenta atividade aumentada, reconhecidamente um fator de forte impacto no desenvolvimento de vários tipos de câncer. Quando se acumula nas células, a ß-catenina ativa mecanismos que as tornam imortais e favorecem sua proliferação, passos iniciais importantes na progressão do câncer.

Campus da Universidade Rey Juan Carlos, em Madrid, capital espanhola.

A pesquisa espanhola, publicada na revista científica Molecular Cell, provou que quantidade elevadas – e apenas as elevadas – de açúcar no sangue levavam à superprodução de GIP e ao acúmulo de ß-catenina nas células intestinais. Desta forma, Custodia e seus colegas encontraram um link entre hiperglicemia (característica fundamental do diabetes) e câncer.

“Nós ficamos surpresos ao perceber que mudanças no nosso metabolismo causadas pelo açúcar que ingerimos têm impacto nos riscos de câncer. Estamos investigando agora quais outros componentes da dieta podem influenciar neste risco.”, disse a doutora Custodia. “Mudanças na dieta são algumas das estratégias de prevenção mais fáceis de serem feitas, podendo evitar muito sofrimento e perda de dinheiro.”, completou.

Comentando a notícia, o professor de oncologia da Universidade de Oxford, Colin Goding, disse que “Antes, nós não tínhamos certeza de como o excesso de açúcar no sangue característico do diabetes e da obesidade poderiam aumentar os riscos de câncer. Este estudo identifica um mecanismo molecular-chave através do qual a glicemia alta pode causar predisposição ao câncer. Ele abre caminho para potenciais novas terapias voltadas à redução do risco de câncer em pessoas obesas e diabéticas”.

2 Comentários

  1. Calma, Matheuz, não se preocupe demais! Há pesquisas que apontam que, sim, quem tem diabetes possui também maiores chances de desenvolver alguns tipos de câncer – é o que a matéria acima explica.
    Porém, é muito importante lembrar que “maiores chances” não significa um sentença – se você cuidar direitinho da glicemia, praticar atividades físicas regulares, se alimentar bem, não fumar, manter um peso saudável e sempre seguir as orientações médicas, poderá ser muito mais saudável do que muita gente que nem diabetes tem!

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