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Descoberta ligação entre a gripe e o diabetes tipo 1

Pesquisa fortalece a tese de que infecções do sistema respiratório que pegamos na infância podem ser a causa por trás do desenvolvimento do diabetes tipo 1.

Será que uma infecção simples, como um resfriado, pode desencadear processos que levam ao diabetes tipo 1? Cada vez mais há evidências que suportam a teoria.

Uma novidade científica de grande impacto foi anunciada ontem (21/2) e pode ajudar a responder a uma das questões mais misteriosas quando o assunto é diabetes: afinal, o que causa o diabetes tipo 1?

O diabetes tipo 1 se desenvolve quando o sistema imune – que normalmente destrói apenas elementos nocivos ao nosso corpo, como vírus e bactérias – passa a atacar o próprio organismo. No caso, o nosso sistema de defesa passa a dizimar as células beta, produtoras de insulina. Com isso, cada vez menos insulina é gerada, as taxas de açúcar no sangue aumentam e o diabetes aparece.

Até hoje, ninguém sabe com certeza o que promove este comportamento “auto-destrutivo” do sistema imune. Algumas teorias defendem que infecções adquiridas pouco após o nascimento são capazes induzir o sistema imune a se comportar da maneira errada.

Mas é muito difícil estudar se infecções no início da vida são, realmente, a causa do diabetes tipo 1. Por isso, os cientistas buscam outras maneiras de detectar a causa da doença. Uma delas é estudar o funcionamento dos genes.

 

UM GENE DE DUAS CARAS

Quando pegamos uma infecção causada por vírus, como por exemplo uma gripe, genes relacionados ao sistema imune entram em ação. Eles passam a ser mais expressos no nosso corpo, isto é, eles “funcionam mais” quando estamos doentes.

Um destes genes, chamado de IFN (anti-viral type I interferon), é muito importante para a defesa do organismo contra os vírus. Ele ajuda a coordenar o sistema imune para destruir os invasores e a impedir que eles se reproduzam dentro do corpo.

Porém, apesar de realizar estas ações benéficas, o gene IFN parece estar também relacionado ao diabetes tipo 1. Algumas pesquisas científicas anteriores perceberam que crianças com diabetes tipo 1 tinham expressão maior do IFN. Será que a ação do IFN, que normalmente ajuda o corpo a se livrar de vírus, pode também induzir o sistema de defesa do corpo a destruir as próprias células beta?

 

AS DESCOBERTAS DA NOVA PESQUISA

Agora, cientistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, o da ONG pró-diabéticos JDRF encontraram evidências que fortalecem a correlação entre infecções virais e o diabetes tipo 1. O elo ente elas é, justamente, o IFN.

A pesquisa acompanhou 283 crianças, divididas em três grupos: as saudáveis, as com alta suscetibilidade ao diabetes tipo 1 e as com diabetes tipo 1. A saúde de cada uma delas foi acompanhada ao longo de vários anos.

Os cientistas perceberam um padrão curioso. Algumas das crianças com altas chances de ter diabetes tipo 1 desenvolveram, de fato, a doença. Nestes casos, houve um aumento temporário da ação do gene IFN pouco antes do corpo começar a atacar as próprias células beta. Analisando diários escritos pelas crianças, os pesquisadores descobriram que o aumento na atuação do IFN era correlacionada a infecções do sistema respiratório, como gripes e resfriados, que as crianças haviam pegado. Interessante notar que o gene IFN não se mostrou mais ativo no grupo das crianças saudáveis nem daquelas que já estavam com diabetes tipo 1.

Ou seja, os cientistas descobriram sólidas evidências de que infecções virais levam a um aumento na ação do gene IFN, e que isto é fortemente relacionado ao início da destruição das células beta pelo sistema imune.

“Esta é uma descoberta excitante, porque nós sabemos que colegas na Finlândia fizeram descobertas semelhantes, então os resultados são verdadeiros”, disse o professor John Todd, co-diretor do projeto de pesquisa.

Este novo estudo científico, além de fornecer pistas valiosas para entender melhor a ‘mecânica’ por trás do diabetes tipo 1, também poderá ajudar pais e médicos a monitorar a saúde das crianças. O gene IFN é um possível candidato a biomarcador para o monitoramento do diabetes tipo 1 em crianças predispostas à doença.

 

Referência científica: Ferreira RC et al. “A type I interferon transcriptional signature precedes autoimmunity in children genetically at-risk of type 1 diabetes”. Diabetes 63, 03/2014.

 

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