Conectando o gadget a um sensor de glicose, é possível que pais fiquem de olho na diabetes dos filhos
Veja como a tecnologia ajudou a melhorar a qualidade de vida de uma criança que convive com o diabetes tipo 1!
Meu filho, Evan, foi diagnosticado com diabetes tipo 1 em agosto de 2012. O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que ataca o pâncreas e impede a produção de insulina. O corpo precisa desse hormônio para transportar a glicose do sangue para as células [nota do Diabeticool: não é bem isso. Leia aqui qual é o papel real da insulina no corpo!]
A insulina sintética é usada para regular o diabetes tipo 1, mas ela não age tão rapidamente quanto à insulina humana. Determinar a dose exata de insulina para uma certa quantidade de carboidratos em uma refeição se torna, portanto, um ato de equilíbrio por consumo. Pouca insulina e o nível de açúcar no sangue decola, causando complicações potencialmente fatais. Muita insulina, e o açúcar no sangue despenca a um nível perigoso.
O choque após o diagnóstico permaneceu durante os meses seguintes, a medida em que minha esposa, Laura, e eu tentávamos encontrar uma maneira de manter um garoto de 4 anos de idade vivo e feliz. Nossos dias e noites se resumiam a de 8 a 12 espetadinhas no dedo para medir a glicemia, além de 4 a 8 doses de insulina por dia.
Esse foi o período mais doloroso e obscuro da minha vida, e nós precisávamos encontrar uma solução melhor. Então, iniciou-se uma jornada tecnológica que nos permitiria melhorar a qualidade de vida de Evan – e, por consequencia, a vida de muitos outros.
Logo eu fui atraído por sistemas de monitoramento continuo de glicemia (CGMs, na sigla em inglês). Eles relatavam o nível de glicose no sangue a cada 5 minutos, graças a um transmissor de rádio conectado a um fio fino do sensor que fica por baixo da pele (o cabo é trocado a cada semana e o transmissor a cada seis meses).
A picadinha no dedo não consegue te das as informações que um CGM consegue, como por exemplo a taxa de variação dos níveis de glicose. Esses dados pode ser vitais, não apenas para o cuidado imediato do Evan, mas também para a sua saúde a longo prazo.
Nós adquirimos um CGM DexCom G4 em fevereiro de 2013 e imediatamente nos apaixonamos (o receptor custa 400 dólares e são outros 400 para o transmissor. Os fios dos sensores custam 99 dólares). Nós já não ficávamos mais às cegas entre uma picada no dedo e outra. Nós poderíamos fundir os dados do G4 com o montante de dados sobre nutrição que tínhamos coletado e, assim, ajustar a dose de insulina de Evan.
Mas ter que deixar o Evan todos os dias na creche desencadeou uma onda de pânico: estávamos novamente no escuro. Eu queria que nós – Laura, a enfermeira da escola e eu – fossemos capaz de verificar o nível de glicose dele a qualquer momento e receber alertas quando fora do alcance.
Na época, o Dexcom não oferecia acesso remoto, mais eu sabia que o receptor podia fornecer dados por meio da sua porta USB. O Dexcom tinha um software Windows próprio que puxada os dados e, felizmente, ele era equipado com uma biblioteca API como parte da instalação. Demorei cerca de três horas para escrever um programa em C# que pesquisasse no receptor e fizesse o upload dos dados para uma planilha do Google.
Enviamos Evan para a creche com um pequeno laptop equipado com o receptor. Enquanto ele estava na sala de aula, poderíamos ver o nível de glicose no sangue tanto por um site simples quanto por meio de um aplicativo iOS que eu juntei. Foi uma mudança de vida, porque deu a Evan alguma liberdade do seu tradicional regime de diabetes tipo 1 na creche.
Ainda assim, quando Evan saia para o recreio ou para longas caminhadas, o que o colocava longe do receptor do notebook, estávamos às cegas de novo. Foi assim que comecei meu trabalho em uma solução verdadeiramente ambulatorial com base em um smartphone – em vez de um notebook.
Minha família majoritariamente utiliza dispositivos iOS, mas as limitações de energia e frameworks fechados fez com que a conexão do receptor via iPhone fosse mais difícil que Android.
Eu peguei um Droid Razr M, da Motorola, e, uma vez que eu consegui esconder a numeração básica do USB – muitos celulares podiam “ver” o receptor quando estava plugado – eu comecei a decodificar o protocolo de comunicação do G4. Utilizando o mesmo programa C# de antes, eu rodei comandos e capturei o tráfego do USB enquanto ele se transferia do meu PC para o receptor.
Com esses dados, eu escrevi um aplicativo Android que extraia os dados de glicose e os enviava para a nossa planilha no Google via rede do celular. Na minha empolgação, eu tuitei a minha descoberta e o que aconteceu em seguida foi inacreditável.
Outro “pai diabético”, Lane Desborough, entrou em contato comigo. Ele queria construir um sistema similar para o seu filho. Eu compartilhei o meu programa C# com ele e continuei a reginar o meu app Android durante as férias de verão, para preparar para quando Evan voltasse às aula.
Lane criou o Nightscout, um aplicativo com alertas preditivos, os quais são baseados nos níveis de glicose enviados para a base de dados construída com uma plataforma MongoDB open-source. Lane transformou o meu sistema em uma ferramenta que qualquer um podería usar.
A DexCom posteriormente liberou o Share, um sistema de monitoramento remoto proprietário que funcionava apenas com dispositivos iOS. Ao realizar uma engenharia reversa no protocolo de comunicação do G4 e criar um sistema de base de dados online e aberto, nós podemos acessar os dados em uma ampla gama de equipamentos. Por exemplo, eu comprei um smartwatch Pebble no primeiro dia em que foi disponibilizado e, dentro de algumas horas, eu tinha escrito um software que me permitia ver o nível de glicose de Evan em um piscar de olhos.
Lane e eu (juntamente com Ross Naylor) continuamos a colaborar, e em 2014, construimos um uploader C#, um aplicativo Android, um Pebble watch e um código Nightscout open source.
Posteriormente, engenheiros de software muito melhores do que eu, implementaram o código e o tornou ainda mais práticode usar. um grupo no Facebook do Nightscout, aberto por Jason Adams, e agora com quase 12 mil membros, e nosso código chegaram a semifinal do Hackaday Prize de 2014.
Enquanto o monitoramento remoto pode parecer algo invasivo, ele na verdade é libertador. Evan agora pode brincar mais, aprender mais, e simplesmente fazer mais, porque a vida dele está bem menos interrompida pelas exigências do diabetes.
Nós podemos atenuar a maioria dos eventos hiper e hipoglicêmicos que acontecem sem que o seu dia seja interrompido. Estou orgulhoso de conseguir recuperar algo que perdemos naquele dia de agosto de 2012 e me sinto abençoado por saber que a doença do meu pequeno tem ajudado tantos outros.
Fonte: IT FORUM 365
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