Como mudar a mentalidade de um grupo?
A população latina dos EUA tem, no geral, uma saúde muito, muito ruim. Os números de diabetes entre latinos é o maior do país. Um grupo de cientistas luta para mudar este quadro.
O diabetes tipo 2, diferente do tipo 1, é uma doença “ambiental”. Isto é, muito mais do que fatores genéticos, é a maneira como uma pessoa leva a sua vida que determina as chances do aparecimento da doença. O exemplo clássico: quem se exercita pouco e come demais corre maiores riscos de ficar diabético, e daí ter de conviver com a condição para o resto da vida. Estes fatores do ambiente, tão arraigados ao modo de vida, influenciam de maneira variada, mudando de pessoa para pessoa, e também de grupo étnico para grupo étnico.
O que você faria se fosse um profissional da saúde e percebesse que, dentro um certo conjunto de pessoas, os números de diabetes estavam explodindo? Se descobrisse que as crianças daquele grupo estavam ficando cada vez mais e mais gordinhas e sedentárias – potenciais diabéticas no futuro? Como mudar a mentalidade de um grupo?
Esta é uma questão muito presente nos EUA, onde a população latina é a chamada “minoria” que mais cresce – e cresce doente. O aumento populacional está longe de ser saudável. Cerca de 44% dos garotos latinos e 38% das garotas latinas são ou obesos ou estão acima do peso; a média nacional é de 31%. Estes números ajudam a tornar os adultos latinos muito mais propensos a ter pressão alta, diabetes tipo 2 e algumas formas de câncer.
Em 2007, um conjunto de cientistas e políticos de todos os cantos dos EUA fundou uma rede de pesquisas, a qual deram o nome de Salud America!. A meta era promover maneiras de acabar com a obesidade na população latina norte-americana, que já é considerada epidêmica. Na edição do próximo mês da revista científica American Journal of Preventive Medicine, o grupo anuncia as conclusões de um longo estudo, no qual o modo de vida da comunidade latina foi analisado a fundo para que as mais efetivas soluções de saúde pudessem ser encontradas. Foram levados em consideração o contexto da cultura latina, as condições de saúde e as políticas adotadas pela comunidade em seus locais de trabalho, lazer, aprendizado e oração.
“Este [estudo] é o ápice de vários anos de diligência, paixão e trabalho duro na identificação e exame das estratégias mais relevantes a fim de reduzir e prevenir a obesidade entre crianças latinas”, afirmaram Amelie Ramirez, diretora do Salud America!, e Guadalupe Ayala, da Universidade de San Diego. “Além de promover novas descobertas científicas, o Salud America! ajudou a aumentar as habilidades e experiências dos pesquisadores trabalhando na área, e também a expandir a rede nacional de pesquisas do projeto. O número de pessoas trabalhando com a meta de reverter a epidemia de obesidade no país cresce a cada dia”, completaram.
Vários trabalhos prévios já haviam apontado que a comunidade latina dos EUA é que pior cuida da saúde. Este é o grupo étnico que menos exercícios físicos pratica e que menos monitora o que come. Há diversas associações de latinos ao redor do país que lutam para mudar estas tendências (acompanhe abaixo uma destas campanhas):
Quais foram as conclusões do estudo?
Algumas das melhores maneiras de prevenir a obesidade na população latina – e que, sem dúvidas, poderiam ser empregadas em qualquer grupo cultural -, de acordo com a análise do Salud America!, são as seguintes:
- Estimular crianças a participar de hortas comunitárias e aulas de culinária (aquelas que fizeram estas atividades mostraram melhor controle do peso e comeram mais frutas e vegetais em casa);
- Donos de restaurantes pequenos devem divulgar os valores calóricos e nutricionais dos pratos que servem;
- Sendo os latinos muito religiosos, é importante que as comunidades religiosas ofereçam oportunidades para aulas sobre culinária, saúde e educação física para seus membros;
- Crianças que participam de atividades físicas fora do horário de aula tendem a se manter mais saudáveis ao longo dos anos;
- Programas do governo de educação dos pais, ensinando o que comprar nos supermercados e sobre a importância de manter uma dieta equilibrada e ser fisicamente ativo, melhoram, em muito, a saúde da população;
No fundo, não há enormes ou revolucionárias novidades nos achados do Salud America!. Todos nós já havíamos ouvido sugestões semelhantes. Comer bem e praticar atividades físicas são dicas válidas para que qualquer pessoa viva mais e melhor. A importância do estudo, porém, provém de suas questões políticas. As conclusões apresentadas dão, agora, aval científico para que parlamentares norte-americanos promovam políticas públicas adequadas à saúde dos seus constituintes. Dependendo de como se derem as coisas, não serão apenas os latinos a serem beneficiados pelos programas do governo.
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