Aumentar 1,5 km no deslocamento diário ajuda a proteger o coração
Segundo estudo britânico, adicionar essa distância no dia a dia reduz em 10% o risco de derrame e infarto. O benefício é mais evidente em obesos e diabéticos.
Estacionar um pouco mais longe do trabalho, ir a pé até a padaria ou optar pelas escadas em vez do elevador. Pequenas mudanças no dia a dia são dicas conhecidas para afinar a silhueta sem ter que passar horas na academia. Agora, elas também podem ser poderosas na redução de eventos cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC). Isso se forem capazes de garantir um acréscimo de pelo menos 2 mil passos diários. A conclusão é de um grande estudo internacional publicado na última edição de dezembro da revista The Lancet e liderado por Thomas Yates, do Hospital Geral Leicester, no Reino Unido. O aumento de em média 1,5km na mobilidade diária pode diminuir em 10% a ocorrência de doenças cardíacas, especialmente em pacientes com fatores de risco graves, como o diabetes.
“Até onde nós sabemos, esse é o primeiro estudo a investigar a associação entre a mobilidade diária e a ocorrência de eventos cardiovasculares em adultos com risco”, diz Yates. A equipe liderada pelo pesquisador acompanhou 9.306 indivíduos de 40 países entre janeiro de 2002 e janeiro de 2004. Eles tinham doença cardiovascular com 50 anos de idade ou menos ou um fator de risco adicional no caso dos que ultrapassaram os 55 anos. Em comum, todos apresentavam tolerância à glicose diminuída, uma condição pré-diabética de hiperglicemia associada à resistência à insulina e ao aumento do risco de uma patologia cardiovascular. O estado também pode preceder o diabetes mellitus tipo 2.
O estudo foi capaz de fornecer nova evidência para o papel cardioprotetor da atividade física diária independentemente do peso corporal do paciente. Segundo o líder do trabalho, essa conclusão é reforçada por vários mecanismos biológicos constantemente associados ao aumento da atividade física. Entre eles, melhora no metabolismo lipídico, isto é, a digestão e a absorção das gorduras, além da diminuição do cálcio na artéria coronária. A alta concentração dessa substância no sangue pode levar a uma doença relativamente comum, a hipercalcemia. “Andar a pé é conhecida como a escolha preferida e mais comum de atividade física e de mudança de comportamento”, diz o cientista.
A quantidade de passos dados pelos participantes foi medida por meio de um pedômetro (leia Para saber mais). Segundo Yates, o uso de equipamentos do tipo melhora os resultados em iniciativas para que as pessoas passem a se movimentar mais. Esse benefício é percebido principalmente em pacientes com intolerância à glicose. Yale estima que o aumento de passos proposto seria equivalente a 20 minutos por dia de caminhada moderada.
Estímulo
Segundo Leandro Echenique, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein, um outro trabalho de pesquisa também com o uso de pedômetro mostrou que quem usa o aparelho tem uma aderência maior à atividade física. Isso porque o acompanhamento gera um incentivo que, geralmente, leva a uma perda maior de peso. “A pessoa acaba vendo o número de passos e se sente estimulada a continuar a atividade física.”
Echenique lembra que o recomendado atualmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 10 mil passos por dia para a população comum. Idosos podem se restringir a 8.500 passos. “O que esse estudo traz a mais é conseguir quantificar esse benefício de uma maneira objetiva com uma população de alto risco tanto para diabetes quanto para problemas cardíacos”, avalia.
Chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, João Carlos Guaragna também acredita que a questão central do estudo é confirmar a existência de um benefício vascular da atividade física para um grupo específico. Guaragna conta que um estudo anterior mostrou que pessoas com diabetes tipo 1 que praticam 150 minutos de atividade física por semana conseguem reduzir pela metade a dose de insulina indicada para manter sob controle o nível de glicose no sangue.
“O diabetes não é importante por si só, mas porque também causa doença cardíaca. Pela primeira vez, provaram a redução no desfecho cardíaco, nos eventos graves e na morte por essas doenças em pacientes sob esse risco”, avalia. Ele considera a descoberta muito importante do ponto de vista prático, até mesmo para os próprios médicos. Constantemente, quando pacientes são questionados sobre sedentarismo, o médico tende a não considerar a atividade feita naturalmente, isto é, casos em que a pessoa, apesar de não fazer uma atividade física específica, está sempre em movimento.
Cuidados redobrados
Entre as principais causas para doenças cardiovasculares, estão a vida sedentária, o consumo excessivo de alimentos ricos em gordura e sal, a ingestão de álcool e o tabagismo. Elas levam aos fatores de risco principais, como a obesidade e o diabetes. Por consequência, proteger o coração envolve atividades contrárias: fazer exercícios físicos, ter uma alimentação rica em frutas e legumes e não fumar.
Fonte: Saúde Plena
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