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Atenção à saúde cardiovascular no diabetes tipo 1

Matéria ressalta a importância de prestar atenção também ao coração na hora de tratar o excesso de açúcar no sangue.

O diabetes tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune caracterizada pela destruição das células beta pancreáticas, que resulta em hiperglicemia crônica pela deficiência de insulina. O tratamento com múltiplas injeções de insulina ao dia se mostrou eficaz na melhora do controle glicêmico e na diminuição significativa do risco de complicações microvasculares associadas ao diabetes – retinopatia, nefropatia e neuropatia; por isso, tem sido amplamente utilizado desde o começo da década de 1990, quando foram divulgados os primeiros resultados do clássico estudo DCCT, Diabetes Control and Complications Trial.

No entanto, desde então, tem sido observado um aumento expressivo na prevalência de obesidade, resistência à insulina, hipertensão e dislipidemia em pessoas com DM1, fatores de risco cardiovascular que até então eram comuns apenas na população de indivíduos com diabetes tipo 2 (DM2). As causas desta mudança no perfil de risco cardiometabólico no DM1 têm a ver tanto com a intensificação da insulinoterapia como com as mudanças observadas na sociedade no contexto da transição nutricional e epidemiológica, especialmente o aumento da obesidade, que se estabeleceu como uma epidemia mundial.

Purnell et al. (2013) acompanharam longitudinalmente pacientes participantes do DCCT sob insulinoterapia intensiva e observaram que o ganho de peso excessivo, definido como um incremento de 4,39 kg/m2 no índice de massa corpórea (IMC) ao longo de 6,5 anos de estudo, foi associado com aumento na obesidade central, avaliada pela aferição da circunferência da cintura, bem como com resistência à insulina, dislipidemia, hipertensão e maior espessura da camada íntima-média da artéria carótida, um indicador de aterosclerose.

Diversos fatores explicam a relação entre a aplicação de múltiplas injeções de insulina ao dia e o ganho de peso, como a redução da glicosúria, ou seja, da perda de glicose na urina, aumentando seu aproveitamento energético. Ainda, por se tratar de um hormônio anabólico, a insulina promove o aumento tanto de massa livre de gordura como de massa gorda. Também existem efeitos indiretos, mediados pelo aumento da frequência de episódios de hipoglicemia que geralmente acompanham o tratamento intensivo. Estudos em adultos com DM1 indicam que a hipoglicemia desencadeia compulsão por alimentos, especialmente aqueles ricos em carboidratos, e o ganho de peso também pode ocorrer pela supercorreção da hipoglicemia ou pelo hábito de comer mais para prevenir um eventual episódio.

Além disso, é preciso levar em consideração que, dada a complexidade do manejo do DM1, a aderência ao tratamento nesses pacientes pode ser comprometida. Davidson et al. (2014) divulgaram resultados de um estudo multicêntrico conduzido em 20 cidades brasileiras no qual encontraram que 45% dos pacientes com DM1 não aderem ao tratamento nutricional. A baixa adesão foi associada com piores valores de IMC, hemoglobina glicada, triglicérides, LDL-colesterol e pressão arterial distólica. Segundo a literatura, as principais barreiras que interferem na aderência ao tratamento do DM1 incluem: conflitos pessoais e familiares, sentimentos negativos, dificuldade de fazer escolhas alimentares adequadas em diferentes ocasiões sociais, como festas e no final de semana, além do baixo entendimento de planos alimentares e tabelas de substituição de alimentos ou de contagem de carboidratos.

As evidências sugerem que a alimentação desequilibrada, com excesso de gorduras saturadas e pobre em fibras, junto com o sedentarismo, tem um papel relevante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares em pacientes com DM1. Somado a isso, o tratamento intensivo do diabetes predispõem os pacientes à obesidade e suas comorbidades. Desta forma, o trabalho de profissionais de saúde em equipes formadas por médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos é de grande importância para prevenir o possível ganho de peso que acompanha a insulinoterapia intensiva, por meio da promoção de um estilo de vida saudável.

Fonte: A Tribuna

 

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