A História do Diabetes – Parte 5 – E o futuro…?
Quais são as promessas de tratamento do diabetes para o futuro e o que podemos fazer para ajudar a vencer a doença? Ronaldo Wieselberg conta para nós na parte final da História do Diabetes!
POR RONALDO WIESELBERG
Como vimos no artigo anterior, o tratamento do diabetes evoluiu no século XX tudo o que não evoluiu em quase três mil e quinhentos anos de conhecimento da doença. Nessa época, foram descobertos os medicamentos orais, os análogos de insulina, e a terapia de contagem de carboidratos. As principais marcas de bombas de insulina surgiram no mercado.
Puxa, mas parecia que estávamos indo tão bem… E no século XXI? As pesquisas pararam?
Pelo contrário. As pesquisas continuaram ao longo do século XXI, assim como estão a todo vapor, atualmente! Porém, um outro ponto muito importante surgiu no fim do século XX, e continuou como prioridade no século XXI: a educação em diabetes.
A ideia, em si, é muito simples, e tem ramificações muito interessantes. Se o objetivo é a cura do diabetes, precisamos nos certificar de que as pessoas com diabetes tenham condições de aproveitá-la quando ela surgir. E aí, começam as muitas ramificações.
A IDF – Federação Internacional de Diabetes – preconizou alguns objetivos, visando esse alvo final. Aumentar a prioridade para a prevenção do diabetes – no caso do tipo 2 –, fortalecer as lideranças nacionais para aumentar a resposta e controle às complicações do diabetes, reduzir as taxas de mortalidade devido ao diabetes e complicações, fortalecer os sistemas de saúde para permitir o tratamento focado na pessoa com diabetes e oferecer cobertura de saúde a todos, promover condições para pesquisas em diabetes são alguns destes pontos. O objetivo final, quando todos forem cumpridos, será a melhor qualidade de vida possível para quem tem diabetes.
De maneira a diminuir o preconceito por parte de quem não tem diabetes, a IDF, em 2003, recomendou que os termos “diabetes insulino-dependente”, “diabetes juvenil” – ambos para o tipo 1 –, “diabetes não-insulino-dependente” – para o tipo 2 – e “diabético” deixassem de ser utilizados. Muitas pessoas com diabetes acabam não vendo problema em usar os termos, porém, a recomendação persiste.
Eis que, então, surgem os projetos, tanto nacionais, por parte das associações de diabetes de cada país, quanto da própria IDF.
Em 2007, a IDF lançou a campanha “Bring Diabetes to Light”, em tradução livre, “Traga o Diabetes à Luz”, que, no Dia Mundial do Diabetes, ilumina monumentos ao redor do mundo para alertar o mundo sobre a doença. O Cristo Redentor, o Maracanã, a Estátua da Liberdade (EUA) e a Torre Eiffel (França) já foram iluminados durante essa campanha.
No Brasil, a Jovem Líder da IDF Claudia Labate criou o grupo BluePower Diabetes, que trabalha fazendo campanhas e divulgando o diabetes. Ao redor do mundo, também, a Jovem Líder da Alemanha, Katarina Braune, conseguiu organizar recentemente uma campanha em um dos maiores jogos online do mundo, o Blue Buff for Diabetes, no jogo League of Legends.
Falando nos Jovens Líderes, o programa da IDF foi mais uma maneira de trazer um novo gás para a causa do diabetes. Você pode ler mais sobre o programa clicando aqui!
Outro programa da IDF, criado pensando nos objetivos citados lá em cima, foi o “Life for a Child”, ou seja, “A Vida por uma Criança”. É um programa que fornece insulina, seringas e material de monitorização de glicemia, de graça, para crianças em países como Índia, Equador e Congo. Além disso, o programa também provê cuidados médicos e educação em diabetes nesses países.
Os Jovens Líderes da IDF não ficaram para trás, e também estão a todo vapor com projetos de assistência. A Jovem Líder da Inglaterra, Elizabeth Rowley, deu início à campanha “100 campaign”, ou seja, a “Campanha dos 100”. O objetivo é que até 2022, quando comemoraremos os 100 anos da descoberta da insulina, tenhamos 100% das pessoas com diabetes ao redor do mundo com acesso à insulina.
Ufa! Quanta coisa, só para divulgar o diabetes e educar quanto à doença!
Além de toda essa divulgação, as pesquisas científicas estão a todo vapor.
Pesquisas atuais desenvolveram outros tipos de administração de insulina, dentre elas, a insulina inalável. Esse tipo de insulina foi descontinuado devido às perdas por ingestão – basicamente, era um aparelho que funcionava como uma bombinha para asma, a maior parte da insulina ficava na boca ou garganta… – e por complicações para administrar as doses em quem tinha algum problema respiratório – desde um simples resfriado até câncer de pulmão.
A tecnologia de monitorização de glicemia também foi alvo das pesquisas. Monitores de glicemia não-invasivos, como o GlucoWatch, surgiram a partir de 2001. Até o Google entrou na briga, recentemente, com pesquisas sobre lentes de contato para monitorar a glicemia. Uma tinta especial para tatuagem, que muda de cor conforme a glicemia, está em fase de testes nos EUA, e acaba sendo uma maneira curiosa de manter o controle glicêmico.
Com a chegada dos smartphones, os aplicativos para o controle do diabetes surgiram rapidamente. Aplicativos com tabelas nutricionais, para anotar os valores de glicemia, e até o iBGStar, um periférico para iPhone, para medir a glicemia, surgiram. Muitos deles, hoje, têm até conexão com os carros, de maneira que o motorista saiba quanto está sua glicemia durante o trajeto – e possa parar caso perceba uma hipoglicemia chegando.
A melhora dos métodos diagnósticos – e também uma atualização dos níveis de glicemia aceitáveis – permitiu que muitos dos casos de diabetes que antes não eram diagnosticados fossem descobertos. Assim, os dados epidemiológicos do diabetes sofreram alterações que deixaram os médicos de cabelos em pé: na África, por exemplo, 76% das mortes relacionadas ao diabetes são de pessoas com menos de 60 anos, e estatísticas mostram que na América do Sul, o número de pessoas com diabetes vai crescer pelo menos 60% até 2035.
O Brasil também está despontando nas pesquisas científicas. O Dr. Carlos Eduardo Barra Couri – que também escreve para o Diabeticool! – é um dos grandes pesquisadores da terapia com células-tronco para o tratamento do diabetes, e já foi premiado internacionalmente por isso! Outras pesquisas, com insulinomas – um tipo de câncer que produz insulina – também se mostram promissoras, mas ainda estão sob pesquisa. Como já vimos na parte 4 (veja no link abaixo!), às vezes demora mais de vinte anos para que tenhamos resultados que não coloquem em risco a saúde do paciente.
E o futuro? Oras, até 2035, a previsão é que 592 milhões de pessoas tenham diabetes ao redor do mundo, e que os gastos em saúde relacionados ao diabetes passem de 627 bilhões de dólares. Os últimos dados do Atlas da IDF mostram que uma pessoa com diabetes morre no mundo a cada seis segundos, seja por falta de recursos, por desconhecer a doença, ou simplesmente por negligência. Diariamente, tentamos fazer desse futuro um futuro um pouquinho mais brilhante.
Este é o nosso futuro. Estamos construindo o futuro do diabetes diariamente, ao cuidar de nós mesmos. Alguns dos maiores cérebros do Brasil e do mundo estão trabalhando em prol do diabetes, e precisamos ter ciência da doença. O Dr. Elliott Joslin já dizia, lá, no começo do século XX: “Educação não é parte do tratamento; educação É o tratamento em si”.
Ao recusarmos os tratamentos – sejam com insulina, metformina ou até as tentativas de reeducação alimentar e exercício físico – é como se virássemos as costas para Hesy-Rá, Galeno, Paracelso, Frederick Banting, Charles Best, Elliott Joslin, e todos que estudaram o diabetes ao longo desses três mil e quinhentos anos.
Nós podemos mudar esse futuro.
E você, como quer contribuir para a história do diabetes?
“A História do Diabetes – Parte IV” – 04.02.2014
“A História do Diabetes – Parte III” – 27.01.2014
“A História do Diabetes – Parte II” – 20.01.2014
“A História do Diabetes – Parte I” – 11.01.2014
“Exageros no Fim do Ano – como aproveitar as Festas com saúde” – 31.12.2013
“Revelado o segredo da água de quiabo” – 18.12.2013
“Uma nova força lutando pelo diabetes” – 16.12.2013
Remissão do diabetes tipo 2 é uma realidade cada vez mais frequente, afirmam entidades médicas
Um dos termos mais procurados junto com “diabetes” é “cura“. Afina…
Parabéns pelo artigo, você fez um ótimo trabalho.