Metformina encontrada no esgoto altera metabolismo de peixes
Descoberta de que metformina, mesmo em baixas concentrações, pode alterar o ambiente preocupa pesquisadores.
O lago Michigan, no norte dos Estados Unidos, é um dos maiores do mundo e fica próximo a cidades de grande porte, como Chicago e Milwaukee. A maior parte do esgoto destas cidades é jogada no lago, após passar por um extenso processo de tratamento sanitário. Apesar de receberem esgoto, as águas têm fama de serem limpas, tanto que a prática da pesca é comum.
Mas, aparentemente limpas ou não, o fato é que muito esgoto é jogado ali. E nem tudo o que passa pelas estações de tratamento de água é 100% filtrado.
É o caso de “ingredientes” presentes em medicamentos e que vão parar no esgoto após serem excretados por nós. Pequenas moléculas acabam caindo nas águas do lago, em quantidades tão pequenas – acreditava-se – que não fariam mal algum.
Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Milwaukee analisaram as águas do lago Michigan em busca de indícios de contaminação. Encontraram traços de cafeína – o que prova que os norte-americanos gostam tanto de um bom e saudável cafezinho quanto os brasileiros! -, de sulfametoxazol (um antibiótico) e triclozan (antibiótico e antimicrobiano).
Mas o que mais chamou a atenção da equipe de cientistas foram os níveis de metformina encontrados no lago.
UMA DOCE SURPRESA
“Foi uma surpresa para nós”, disse em entrevista ao jornal Detroit Free Press a pesquisadora Rebecca Klaper. “Nós nem estávamos procurando por ela [a metformina]. Quando chegaram os resultados, eu disse ‘O que é esse medicamento?'”.
A metformina é o tratamento para diabetes tipo 2 mais popular em todo o mundo. Ela aumenta a sensibilidade do corpo à ação da insulina e diminiu a produção de glicose pelo fígado, o que ajuda a baixar a glicemia. Segundo a consultoria de saúde IMS Health, mais de 70 milhões de prescrições do medicamento foram feitas em 2013.
As quantidades de metformina encontradas nas águas do lago são muito baixas quando comparadas às concentrações comuns nos medicamentos da farmácia. Porém, testes em laboratório com espécies de peixes que habitam o lago mostraram um lado preocupante.
A metformina – mesmo nestas concentrações baixas – parece ser capaz de alterar o funcionamento do sistema endócrino dos peixes machos de algumas espécies. De acordo com os testes, estes peixes, quando em contato com a metformina, começaram a produzir substâncias químicas antes só encontradas nas fêmeas. Estas substâncias são precursoras da produção de ovos.
METFORMINA – UM PERIGO AMBIENTAL?
Cidades de grande porte – como Chicago – ficam às margens do Michigan e depositam seu esgoto ali.“É preocupante o quanto estamos jogando medicamentos no ambiente”, afirmou Rebecca.
Se até mesmo concentrações baixas de metformina em uma ampla massa de água como o lago Michigan podem alterar o ambiente, o que dizer de outros medicamentos e moléculas muito mais perigosas, como pesticidas e antibióticos? Os pesquisadores esperam que a descoberta ajude a alertar governos e a população de que remédio bom é o que está ao alcance do paciente, apenas – e não aquele descartado na Natureza.
Remissão do diabetes tipo 2 é uma realidade cada vez mais frequente, afirmam entidades médicas
Um dos termos mais procurados junto com “diabetes” é “cura“. Afina…