A explosão do diabetes infantil
Pesquisadora que coleta dados de diabéticos há 30 anos revela uma alarmante tendência: o número de crianças diagnosticadas tem aumentado assustadoramente.
Terri Lipman é uma profissional da saúde multifacetada: é enfermeira, professora da Escola de Enfermagem da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e ainda trabalha no Hospital Infantil da cidade. Apesar das várias atividades, ela possui uma ligação especial e intensa com uma doença em particular: o diabetes. Além de já ter organizado diversos eventos públicos para a conscientização sobre a condição, Terri também cuida de pacientes diabéticos – em especial das crianças – e realiza pesquisas científicas. Um de seus trabalhos é manter um registro detalhado de crianças com diabetes em sua cidade, a Filadélfia. Foi analisando os dados dos últimos vinte anos deste relatório que a enfermeira chegou a uma alarmante conclusão: as taxas de diabetes nos pequenos crescem em ritmo acelerado, principalmente nos últimos anos.
Em 1985, a Organização Mundial da Saúde criou um projeto de escopo global para o monitoramento do diabetes. A idéia era estudar a distribuição da doença entre diferentes populações, de distintas condições sociais e econômicas. Mais de 150 centros foram criados em 70 países. Nos EUA, um destes centros foi organizado pela doutora Lipman. Ela começou a coletar dados de crianças diabéticas na Filadélfia, dividindo-as entre brancas, negras e hispânicas. Hoje, 28 anos depois, o centro de Terri é o único ainda ativo nos EUA. Com tantos anos de dados coletados à disposição, Terri Lipman pôs-se ao trabalho de estudá-los, observando as mudanças no surgimento do diabetes de trinta anos atrás até os dias de hoje.
Crescimento explosivo
A análise das informações do centro de monitoramento da doutora Lipman foi publicada na edição atual do periódico científico Diabetes Care. As principais – e preocupantes – conclusões são as de que a incidência de diabetes infantil (ou seja, diabetes tipo 1) cresceu 30% na cidade durante o período de 1985-2004 e que os índices de diabetes em crianças menores de cinco anos subiram 70%.
Os dados dão ainda mais peso às diversas pesquisas realizadas ao redor do planeta que demonstram que, a cada ano que passa, mais e mais crianças são diagnosticadas com o diabetes. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, há um crescimento anual de 3% no número de pessoas com menos de 14 anos que descobrem que têm a doença. Pode-se pensar que isto é um bom sinal, indício de que os serviços de saúde têm dado o diagnóstico mais cedo. Mas, de acordo com especialistas, o real motivo do crescimento é a má alimentação das gestantes e das crianças, somada à falta de exercícios físicos.
“A incidência do diabetes tipo 1 nas crianças da Filadélfia aumentou, em média, 1.5 porcento por ano”, revelou Terri. “É importante notar, todavia, que a incidência manteve-se relativamente estável durante os quinze primeiros anos de medição e subiu de maneira marcante a partir dos anos 2000. Esta tendência de crescimento é mais uma evidência do aumento da incidência do diabetes nos EUA e ao redor do mundo”.
A questão étnica e a preocupação médica
“Este crescimento mais rápido do diabetes tipo 1 em crianças menores de cinco anos requer atenção imediata”, disse Terri. “As crianças pequenas correm maiores riscos de morte por conta de diagnósticos mal feitos ou realizados tardiamente. O aumento rápido nos riscos de diabetes em crianças negras de 0 a 4 anos é particularmente preocupante, dadas as disparidades econômicas marcantes que foram identificadas nos tratamentos e nos resultados do diabetes nesta população.”
O relatório de Terri também traça um panorama interessante sobre a doença e as diferenças socio-genéticas das crianças. De acordo com a pesquisa, a incidência do diabetes tipo 1 em crianças hispânicas e brancas manteve-se historicamente estável, em torno de 14 diagnósticos por cada 100 mil crianças. Nos anos de 2000 a 2004, todavia, houve um aumento considerável de casos em ambos os grupos étnicos. O crescimento no número de crianças brancas com diabetes foi de 48%; dentre as hispânicas, o aumento chegou a 27%.
Nota: nos EUA, considera-se “branco” alguém de descendência européia ou de países americanos não-hispânicos; por isso, muitas crianças “hispânicas” seriam consideradas “brancas” pelo padrão brasileiro.
Os dados epidemiológicos de Terri também permitem aferir a prevalência do diabetes tipo 2 em jovens. A pesquisa mostrou que, pelo menos na Filadélfia, a incidência do diabetes tipo 2 é maior em mulheres e em jovens negros, e menor em jovens brancos não-hispânicos.
Uma criança com diabetes é muito mais provável de possuir o tipo 1 da doença (veja as diferenças entre os dois tipos aqui), fato corroborado pelas informações do projeto. As crianças negras mostram incidência quase duas vezes maior do diabetes tipo 1 do que do 2. Já entre crianças brancas, o tipo 1 é 18 vezes mais comum do que o tipo 2. Isto indica, segundo Lipman, que as crianças negras têm uma predisposição maior ao diabetes tipo 2 – todavia, afirma a doutora, isto não se trata de uma conclusão categórica, mas de uma hipótese baseada apenas em observações específicas daquela cidade.
O que fazer para diminuir o crescimento
“Apesar de haver várias hipóteses relacionadas às causas do aumento no número de casos de diabetes tipo 1, nenhum fator de risco foi até agora confirmado”, garante a dra. Lipman. “É crítico que se mantenham as investigações sobre os fatores de risco que possam estar relacionados ao crescimento na incidência do diabetes tipo 1 no geral, e, principalmente, nas crianças pequenas.”
“O diabetes tipo 1 continua sendo o maior risco para as crianças da Filadélfia, um risco três vezes maior que o diabetes tipo 2”, enfatizou Terri. “Melhorar e manter a coleta de informações e as pesquisas científicas ajudarão a tornar mais claras as origens e a epidemiologia destas preocupantes tendências mundiais em diabetes pediátrico”, concluiu a doutora.
Ela está fazendo a sua parte no combate ao problema. Há dois anos, Terri lançou o programa “Dance for Health“, o qual incentiva os pequenos a praticarem atividades físicas através da dança. Espera-se que o esforço diminua os riscos de obesidade infantil – um dos principais fatores de risco para o diabetes. Além disto, ela estimula os alunos de enfermagem da Universidade a realizar ações educativas nas comunidades locais, ensinando bons hábitos alimentares, falando sobre a importância de praticar exercícios e explicando como identificar os sintomas iniciais do diabetes.
Apesar das taxas alarmantes de diabetes, as crianças da Filadélfia podem dormir mais sossegadas, sabendo que terão boas chances de crescer saudáveis: elas estão muito bem amparadas pelos esforços da doutora Terri Lipman.
A dança é uma ótima e divertida maneira de livrar as crianças dos riscos do sendentarismo e da obesidade.Remissão do diabetes tipo 2 é uma realidade cada vez mais frequente, afirmam entidades médicas
Um dos termos mais procurados junto com “diabetes” é “cura“. Afina…
Todo ano na festa da Páscoa convivemos com uma farra de açúcar que não tem tamanho. Estava procurando um trabalho que apontasse um pico na incidência de diabete infantil (cárie e obesidade também) que tenho certeza que acompanha essa festa.